quarta-feira, 4 de abril de 2012

Bubble – Uma nova experiência

Steve Soderbergh é um dos poucos cineastas que conseguem imprimir alguma autenticidade em seus trabalhos, seja pelo cinema comercial (“Irresistível Paixão”, “Erin Brockovich” e “Onze Homens e Um Segredo”) ou pelo ‘experimental’ (“Sexo, Mentiras & Videotape”). “Bubble” é mais um filme autêntico do diretor que não tem pretensões com os cifrões, mas tem muita audácia para criticar o vazio mental do ser humano na sociedade contemporânea.

A história gira em torno de Martha (Debbie Doebereiner) e Kyle (Dustin Ashley), dois amigos que trabalham numa fábrica de bonecas, localizada numa cidade do interior dos Estados Unidos, no estado de Ohio. A convivência entre os dois é interrompida com a chegada de uma nova funcionária, a jovem e mãe solteira Rose (Misty Dawn Wilkins). Quando Rose se interessa por Kyle, e vice-versa, o destino dessas três pessoas é traçado de forma oca e triste.

A tal fábrica de bonecas serve de sustentação para o argumento crítico construído pelo bom roteiro de Coleman Hough, que traça personalidades diferentes e as coloca em conflito a partir de suas relações (platônicas). A monotonia e a solidão dos protagonistas, tanto na vida pessoal como na profissional, são retratadas como ‘vidas mecânicas’. E essa visão pragmática do cotidiano dos personagens é muito bem ensaiada por Soderbergh.

Soderbergh é provocador e ousado ao optar em trabalhar com atores amadores, com uma narrativa simples e com um tratamento neo-realista à película, o que remete ao movimento Dogma 95 no cinema (filmar em locações reais, com elenco desconhecido e com iluminação natural). O diretor cria uma atmosfera angustiante, densa e realista a partir do equilíbrio do ritmo lento, da estética seca, da imagem estática e da improvisação dos atores, que valoriza as performances dramáticas.

O cineasta também utiliza, em diversos momentos, o silêncio e a montagem para mostrar as minúcias do ‘vazio mental da natureza humana’, seja na apresentação dos ambientes, no cotidiano dos operários em uma fábrica de bonecas ou nos relacionamentos frios entre os protagonistas. Tudo isso se encaixa em um clímax tenso e criminalmente desesperançoso.

Falando nisso, a desesperança está a todo o momento no caminho dos personagens que sempre desejam algo que não podem ter, repetem constantemente as ações do dia-a-dia e carecem de boas perspectivas para melhorar o ‘mundo pequeno’ em que vivem. Talvez por isso elas sejam como grandes bolhas (tradução do título) de ar ou como bonecas: têm identidades por fora e são vazias por dentro.

Bubble – Uma nova experiência (Bubble)
EUA, 2005 – 73 minutos
Drama
Direção: Steven Soderbergh
Roteiro: Coleman Hough
Elenco: Debbie Doebereiner, Dustin James Ashley, Misty Dawn Wilkins, Omar Cowan, Laurie Lee, David Hubbard, Kyle Smith, Decker Moody, Ross Clegg
Trailer: clique aqui
Cotação: * * * *