quinta-feira, 17 de maio de 2012

Drive

Nem sempre um bom filme é proveniente de uma grande história. A criatividade, a aura artística e a maneira como clichês e estilos são trabalhados podem transformar narrativas simples ou convencionais em longas espetaculares. Exemplo disso é “Drive”, um thriller de ação que leva a sério a dramaticidade das situações e surpreende por ter uma direção que valoriza o teor artístico.

A história fala de um dublê de Hollywood (Ryan Gosling) que faz bicos na noite como motorista de aluguel do submundo do crime. Depois que ajuda o marido de sua vizinha Irene (Carey Mulligan) em um trabalho que saiu errado, ele é caçado por criminosos. Seu objetivo é eliminar os bandidos que o perseguem e, também, proteger Irene e seu filho, que também são ameaçados.

“Drive” pode ser definido como longa convencional sobre justiceiro, como um thriller de toques noir e ‘tarantinescos’, como ‘faroeste urbano’ romântico ou como drama sobre um golpe frustrado. O filme é isso tudo, uma produção que recicla clichês do gênero de forma arrebatadora e estilosa pelo diretor Nicolas Winding Refn. Não é atoa que ele foi merecidamente premiado no festival de Cannes de 2011.

A essência artística consiste no tratamento que o diretor imprime durante toda a projeção. A fotografia está sempre em contrastes e luzes detalhistas (principalmente nas cenas noturnas); a câmera de movimentos sutis é ora lenta ora quase estática; a edição evita a frenesi; há um perfeito equilíbrio da ação e da sensibilidade dramática; os momentos de silêncio são orquestrados de maneira densa; e a violência e trilha sonora são pontuais.

Tudo é feito sem pressa no intuito de valorizar o desenvolvimento de cada personagem e, sobretudo, para dar alma ao protagonista. O ritmo lento e a pegada intimista do ótimo roteiro ditam a transformação do heroi, sejam nos momentos de perseguições automobilísticas e na sanguinolência ou na pura e silenciosa demonstração de seus sentimentos que, aos poucos, ganham contornos emotivos.

Outro ponto positivo é a atuação inspirada de Ryan Gosling. O ator faz um personagem frio, solitário, misterioso e de poucas palavras que vê na paixão que sente pela vizinha uma chance de se afastar da mesmice e buscar felicidade, afeto e esperança. Gosling consegue um dinamismo incrível em sua interpretação ao ser contagiante na sutileza de olhares e pequenos gestos e ao ser extremamente ameaçador ao exprimir comportamento agressivo.

É difícil de encontrar um filme em que todos os seus elementos estão em plena harmonia para proporcionar entretenimento e reflexão. O conceito de “Drive” vai muito além de sua tradução em função de fugas. Dirigir, aqui, é optar e seguir caminhos para sobreviver e ultrapassar objetivos. Uma obra prima do gênero ‘ação de arte’.

Drive
EUA, 2011 - 100 minutos
Drama / Ação
Direção: Nicolas Winding Refn
Roteiro: Hossein Amini, James Sallis (livro)
Elenco: Ryan Gosling, Carey Muligan, Albert Brooks, Bryan Cranston, Ron Perlman, Oscar Isaac, Christina Hendricks
Trailer: clique aqui
Cotação: * * * * *

Um comentário:

  1. Acabei de ver Tudo pelo Poder com Ryan Golding, esse garoto promete.
    O filme tem outros atrativos, como George Clooney na direção.

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