domingo, 1 de outubro de 2017

Kingsman - O círculo dourado

Maior e melhor. Essa é uma 'regra' básica se tratando de continuações, principalmente aquelas produzidas por Hollywood. No entanto, nem todas as sequências obedecem essa cartilha e se tornam maiores, mas, muitas vezes, piores. O fato de aumentar a história é uma forma natural de dar seguimento à narrativa e de engrandecer o espetáculo, afinal de contas, o espectador espera ver , em uma escala mais perigosa, aquilo que consagrou a produção original.  Além disso, o público também espera uma renovação do 'fator surpresa' em um segundo filme para seguir contemplando determinados universos.

O maior exemplo disso é "O exterminador do futuro 2 - O julgamento final" (1991). O filme de James Cameron anabolizou o fator ameaça, engrandeceu as cenas de ação, ampliou a qualidade dos efeitos visuais e é considerado por muitos um longa superior ao antecessor. Qual foi o mérito disso? O cuidado técnico e narrativo em esticar uma história inserindo mais 'fatores surpresas' e mantendo a coerência em tudo para conquistar o espectador. Claro, uma boa dose de criatividade também é importante para que o 'mais do mesmo' tenha um ar de originalidade.
 
"Kingsman - Serviço secreto", baseado na história em quadrinhos de Mark Millar, surpreendeu a todos em 2014 ao homenagear longas de espionagem de maneira absurdamente divertida. A criatividade foi peça fundamental na direção de Matthew Vaughn. Ele estilizou a violência, trabalhou a galhofa de forma bem humorada sem perder a elegância e espetacularizou as sequências de ação com muita câmera lenta, tecnologia e movimentos de câmera engenhosos. "Kingsman - Serviço secreto" é um filme ousadamente 'cool' e, certamente, estará em muitos top 10 dos melhores exemplares do gênero dos últimos anos.
 
Com o sucesso do longa, Matthew Vaughn, que dirige, roteiriza e produz, procurou manter o padrão visual e seguir a tradicional cartilha, mas esbarrou na ambição e na pressa (para faturar alguns trocados a mais), suas principais inimigas para a imperfeição de "Kingsman - O círculo dourado". Tudo aqui é maior: a ameaça, as cenas de ação, o elenco é mais inchado (há uma participação hilária de Elton John), há mais efeitos visuais (de boa qualidade, diga-se de passagem), a dificuldade de resolver os problemas e... as derrapadas do roteiro.
 
Na trama, após as bases da Kingsman serem destruídas, Eggsy e Merlin viajam aos Estados Unidos em busca de ajuda e descobrem a existência da Statesman, a versão americana da organização de espionagem. Ambas as entidades tem um único objetivo, capturar a vilã Poppy, a maior traficante de drogas da atualidade que pretende forçar o mundo a legalizar suas drogas.
 
Embora tenha uma premissa divertida, o longa é extremamente mal escrito. A maioria dos argumentos para se criar coerência narrativa é frágil. Isso gera uma série de furos e faz com que o exagero não fique tão plausível dentro da proposta do filme. Além disso, o humor surge deslocado em alguns momentos e as tentativas de inserir 'fatores surpresas' mais atrapalham do que surpreendem. Por exemplo, a descoberta de outra super organização secreta ou a aparição de novas engenhocas tecnológicas, 'ok' como elementos inesperados, mas a forma como Harry 'retorna dos mortos' é difícil de engolir e se torna inverossímil.
 
Vaughn parece estar no piloto automático e nos entrega um produto menos contagiante e repleto de auto-sátiras e situações pouco inspiradas. As cenas de ação não empolgam como deveriam, a não ser duas delas que merecem destaque, a perseguição na abertura do filme e a pancadaria final filmada em um plano sequência clichê, porém sensacional.
 
Quando o deboche em excesso se sobressai à caricatura ele vira um problema de equilíbrio. Isso define os deméritos de "Kingsman - O círculo dourado" que é uma aventura mediana de sessão da tarde e completamente esquecível.
 
Kingsman - O círculo dourado (Kingsman: The Golden Circle)
2017 – EUA/GRA, 141 minutos
Ação
Direção: Matthew Vaughn
Roteiro: Dave Gibbons, Jane GoldmanJane, Mark Millar, Matthew Vaughn
Elenco: Taron Egerton, Channing Tatum, Halle Berry, Jeff Bridges, Julianne Moore, Mark Strong, Pedro Pascal, Sophie Cookson, Calvin Demba, Colin Firth, Edward Holcroft, Elton John
Cotação: * *