sábado, 10 de fevereiro de 2018

The Square - A Arte da Discórdia

A premissa de "The Square - A Arte da Discórdia" é curiosa e bizarramente provocativa. Isso porque o assunto principal trabalha o conceito de arte contemporânea. Como a definição dessa arte causa certa polêmica, quase tudo neste filme sueco confronta e convida o espectador a refletir sobre detalhes que podem divergir sobre o que é ou não arte.
 
A narrativa foca na vida de um gerente de museu na Suécia que deve lidar com duas situações: uma é de âmbito profissional, ao promover uma nova exposição vai dar o que falar; e a outra é pessoal, em que arquiteta um plano para resgatar seu celular e sua carteira, furtados na rua quando estava a caminho do trabalho.
Ao tentar conciliar as duas circunstâncias, ele se atrapalha demais em ambas e tudo foge do seu controle causando diversas consequências infelizes.
 
O roteiro utiliza metáforas interessantes (algumas com humor rasteiro) para discutir o tema. Assim como certas manifestações podem ser artisticamente eloquentes para uns e significar nada para outros, pequenas ações podem ser soluções de problemas para uns ou ser a gota d'água para provocar a ira em outros. Com isso, a todo momento, há várias interferências na maioria das cenas que provocam o espectador, seja uma criança chorando em um lugar que ela não deveria estar, ou a presença de um macaco na hora do sexo ou até da 'encarnação' primata de um homem em um jantar de gala.
 
É curioso que a narrativa não se preocupa com determinadas linhas lógicas. Isso parece ser intencional por parte do roteiro, afinal de contas, estamos diante de constantes alegorias e analogias que convergem para uma representação da concepção e recepção de arte contemporânea. O interessante é o sentimento de revolta que a tal arte causa em alguns personagens, o que pode ser entendido como uma crítica da glamorização de coisas fúteis, o que se encaixa perfeitamente com o subtítulo que o longa recebeu no Brasil, 'a arte da discórdia'.
 
O filme, de direção sensível de Ruben Östlund ("Força Maior"), que também assina o roteiro, possui uma extensa duração (2h30m) e não parece estar preocupado em dinamizar o desenvolvimento de situações. Proposital ou não, isso o torna cansativo ainda que tenha uma edição de poucos cortes eficiente e uma boa fotografia que utiliza câmeras estáticas (algumas com movimentos suaves) que valoriza as interpretações dos atores em cena.
 
Contudo, assim como qualquer obra classificada como arte, cabe ao espectador interpretar se as manifestações textuais e visuais de "The Square - A Arte da Discórdia" possuem ou não teores artísticos.
 
The Square - A Arte da Discórdia (The Square)
2017, SUE/DIN/FRA/EUA - 151 minutos
Drama
Direção: Ruben Östlund
Roteiro: Ruben Östlund
Elenco: Claes Bang, Dominic West, Elisabeth Moss, Terry Notary, Annica Liljeblad, Christopher Læssø, Marina Schiptjenko, Sarah Giercksky
Cotação: * * *